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Brasil precisa de uma nova abordagem para financiamento da infraestrutura de cuidado, diz Débora Freire

Brasil precisa de uma nova abordagem para financiamento da infraestrutura de cuidado, diz Débora Freire

Subsecretária de Política Fiscal chamou a atenção para a necessidade de uma nova geração de políticas públicas adaptadas aos desafios sociais contemporâneos

A subsecretária de Política Fiscal da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Débora Freire, defende a urgência de uma nova abordagem para o financiamento da infraestrutura social de cuidado. Ao participar, na última sexta-feira (14/6), de um debate promovido pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), em Brasília, ela chamou a atenção para a necessidade de integrar o cuidado às estratégias econômicas, para garantir uma distribuição mais equitativa dos recursos e combater as desigualdades, melhorar a qualidade de vida dos grupos sociais mais vulneráveis, além de obter melhores resultados econômicos, inclusive relacionados à produtividade.

A discussão, centrada na “Política Nacional de Cuidados: Infraestrutura Necessária”, reuniu especialistas para debater soluções integradas e sustentáveis. Débora enfatizou que o cuidado deve ser tratado como um componente essencial tanto na esfera social quanto econômica, defendendo a criação de ações por parte do poder público que integrem o cuidado às estratégias econômicas, mas garantindo sustentabilidade fiscal, progressividade e eficiência no uso dos recursos públicos.

A economia do cuidado abrange tanto o trabalho remunerado quanto o não remunerado, incluindo cuidados diretos com crianças, idosos, enfermos, pessoas com deficiência e portadoras de necessidades especiais, bem como tarefas domésticas e de manutenção do lar. Essas atividades, muitas vezes invisíveis e subvalorizadas, são fundamentais para o funcionamento da economia na totalidade. A falta de serviços públicos de cuidado suficientes, a precarização do trabalho de cuidado e a invisibilidade dessas tarefas no planejamento econômico perpetuam, segundo especialistas, ciclos de pobreza e limitam as oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional, sobretudo das mulheres negras.

Investimento

Luiza Nassif, professora da Universidade de Campinas (Unicamp) e diretora do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made) da Universidade de São Paulo (USP), participou ao lado de Débora da mesa principal do evento e compartilhou dados das pesquisas mais recentes do grupo. Ela enfatizou a necessidade de investimento em infraestrutura de cuidado para reduzir desigualdades laborais e melhorar a distribuição de recursos, além de apresentar números que mostram o impacto econômico positivo que tais investimentos poderiam gerar.

A analista de Planejamento e Orçamento do Governo Federal, Clara Marinho, apresentou reflexões sobre a renovação das políticas públicas voltadas para o cuidado. Segundo Clara, existe uma “invisibilização do cuidado” que precisa ser combatida para criar estratégias eficazes quanto ao financiamento dessas políticas. Ela destacou que “é essencial entender a melhor estratégia para criar caminhos que mitiguem as desigualdades existentes, especialmente do ponto de vista do orçamento, defendendo o fortalecimento do SUAS (Sistema Único de Assistência Social) e a recuperação do sentido da seguridade social”.

Débora defendeu a criação de uma “terceira geração de políticas públicas” que abordem o tema. “Precisamos ampliar a articulação entre os governos nas suas diferentes esferas, os ministérios setoriais e da área econômica e a sociedade civil para pensar essas políticas diante da atual e desafiante conjuntura”, disse. “Precisamos ampliar na sociedade o entendimento das estruturas reprodutoras de desigualdades e das políticas públicas que podem ser eficientes em lidar com os desafios do cuidado, sendo essencial tanto recuperar quanto adequar o sentido da seguridade social às novas dinâmicas sociais que se impõem.” De acordo com Débora, este é o grande mérito das ações que têm sido pensadas no processo de gestação do Plano Nacional de Cuidados.

A subsecretária elogiou o trabalho apresentado pela professora da Unicamp e pesquisadora do Made, ao falar sobre a importância de se apresentar um panorama completo sobre o problema. “O trabalho que Luiza [Nassif] apresentou reflete um esforço essencial em apresentar dados quantitativos para discutir políticas públicas. Precisamos de números para entender a importância do tema e para promover políticas eficazes,” disse.

Espaço fiscal

A situação macrofiscal do país, explicou Débora, exige que se busque abertura de espaço fiscal para o fortalecimento das políticas sociais já existentes e para o financiamento sustentável dessas novas e necessárias políticas, sendo fundamental revisar gastos tributários ineficientes e buscar por mais justiça tributária. “A sustentabilidade das políticas sociais depende de um quadro fiscal mais sustentável em médio e longo prazos”, afirmou. “Na primeira crise, políticas financiadas com déficit são interrompidas, o que impede a estabilidade e eficácia dessas políticas. Precisamos de uma revisão de benefícios tributários, creditícios e financeiros que não chegam às populações mais vulneráveis.”

Ela também ressaltou que devem ser preocupações importantes a definição, a princípio, de público alvo, de forma a conseguir atender de forma robusta a população que mais precisa e não tem acesso a serviços de cuidado no mercado privado, e a busca por instrumentos de financiamento que sejam progressivos, evitando medidas que podem ser regressivas, como por exemplo desonerações de impostos.

A subsecretária também abordou a necessidade de um pacto federativo que considere a política de cuidados como um elemento local, envolvendo estados e municípios no financiamento e implementação dessas políticas. “A política de cuidados é local. Não adianta achar que só a União vai resolver todo o processo. Precisamos de um pacto que envolva União, estados e municípios de forma integrada”, afirmou. De acordo com Débora, a política de cuidados deve também ser estratégia de desenvolvimento regional dos Estados em seus territórios, por exemplo.

A identificação e priorização de recursos orçamentários para políticas de cuidado, defende Débora, são essenciais para enfrentar os desafios atuais. “Precisamos entender o que já temos, o que falta e o que precisa ser ampliado para promover políticas de cuidado eficazes. Este é um desafio tanto econômico quanto social,” disse ela, que ainda destacou a importância de considerar a oferta e a demanda de trabalho de cuidado, sugerindo que projeções de demanda crescente devem incluir a estimativa da oferta e o impacto econômico associado.

O evento, chamado “Sexta em Debate”, reforça a relevância do tema da infraestrutura de cuidado no contexto das discussões sociais, econômicas e fiscais. O Plano Nacional de Cuidados, previsto para ser lançado no segundo semestre de 2024, representa um passo importante para enfrentar os desafios relacionados ao financiamento e à implementação de políticas públicas de cuidado no Brasil.

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